segunda-feira, 30 de outubro de 2023

MAL ENTENDIDOS

 Tem gente que está entrando aqui e entendendo tudo errado. Minhas últimas três postagens, assim como o poema Atlântico e Pacífico, são para uma linda mulher pernambucana, e só para ela. 

Nem sei se ela entra aqui, mas sei que ela sabe que eu a amo desde muito tempo. A identidade dela é meu segredo, não é da conta de ninguém.

Espero ter esclarecido isto.


quinta-feira, 2 de junho de 2022

 Você saiu da rede, ou me bloqueou de alguma forma, sei lá. Não posso mais ver tuas fotos, a única coisa que já tive de ti. Às vezes tento te achar por aqui, de algum jeito mas não consigo.

A vastidão da minha tristeza é indescritível em palavras.

Nem sei se você vai ler isso. Aliás, nem sei se já leu alguma coisa aqui.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Atlântico e Pacífico

Vastos, os oceanos não são

Azuis.

Eles são estes teus olhos

Verdes.



Francisco Cleóbulo Teixeira

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Amor de mármore

Em pedra ou em mármore
Eu te esculpo
A meu bel-prazer.

Te faço perfeita
Ingênua, pura
E sem graça.

Apago teu jeito
Te boto defeitos
Me fazes sofrer.

Me fazes amar
Intensamente
Enfim, odiar.

Te obrigo a trair-me
Pretexto
Para te humilhar.

Tu choras pedindo
Pedaços de amor
Aos meus pés.

Sorrimos num beijo
Eu, estátua
Tu, escultora.


Francisco Cleóbulo Teixeira

terça-feira, 17 de maio de 2011

O seqüestro

Olhei para o banco de trás do carro, enquanto os faróis cortavam a escuridão da estrada. O homem gemia baixinho, meio inconsciente, meio atordoado, acordando aos poucos. Estava bem amarrado, bem amordaçado e provavelmente com uma baita dor de cabeça, efeito do éter que cheirou na marra. Tinha sido muito fácil até ali. Um cara importante como esse, andando por aí sem nenhum guarda-costas...
O representante do consórcio que estava me pagando tinha deixado bem claro o seguinte: todos os consorciados, sem exceção, queriam que eu o fizesse sofrer o máximo possível. Essas pessoas eram vítimas diretas ou indiretas (havia até caso de suicídio) da atuação empresarial deste indivíduo nos últimos anos.
Não me agradava tal tipo de exigência, uma vez que a principal característica do meu modus operandi é uma ação rápida e limpa, sem possibilidades de deixar rastros. Mas o representante foi categórico, disse-me que todos queriam até uma fita gravada com os gritos de agonia do sujeito! Pra enfatizar mais este ponto, colocou no telefone uma das vítimas, a viúva de um suicida, que me suplicou aos prantos: “Moço, não sei quem você é, mas por tudo quanto lhe é sagrado, faça aquele cachorro sofrer! Corte fora o saco dele, queime os olhos dele, faça...” e não conseguiu mais falar, a voz embargada pela emoção e o choro.
Havia mais nove pessoas do consórcio com igual ou maior rancor. Certamente, o cara tinha feito um estrago do diabo na vida dessas pessoas; tudo em nome de uma tal de Qualidade Total, que, segundo o representante, era a expressão e o pretexto mais utilizado pelo sacana ultimamente. É sempre um punhado de sujeitos assim quem decide os destinos dos outros, da maioria, agindo como se não soubessem que, em se tratando de gente, não existe essa porra de Qualidade Total. De tempos em tempos aparece uma onda, um modismo invariavelmente criado com o intuito de dar suporte aos instintos predadores dessa corja. Atualmente, é Neoliberalismo pra lá, Qualidade Total pra cá, e blá-blá-blá, etc. Bem, eu não sigo nenhuma onda, nenhum modismo; não sou nenhum executivo moderno, sou um antiquado executor, um predador de predadores. Decidi aceitar o serviço, mas dobrei o preço por conta das exigências.




Ele já estava todo acordado quando dobrei à esquerda, pegando uma estrada velha de terra batida que levava ao armazém. Naquele armazém não poderia haver ninguém àquela hora, já havia checado isso ene vezes. Mas se tivesse alguém lá, azar dele por estar no lugar errado e na hora errada: eu faria o serviço do mesmo jeito, apenas com algumas adaptações circunstanciais.
Chegamos, deixei o homem no carro e fui dar uma última checada no local. Além da lâmpada a gás, havia trazido uma enorme lanterna. Tudo limpo. Voltei para o carro, arrastei o cara para dentro do armazém, acendi a lâmpada a gás e dei inicio aos trabalhos.
Tirei-lhe a mordaça, ele desandou a falar atropeladamente, gaguejando uma pergunta atrás da outra, aí eu liguei o pequeno gravador. Era um tipo magro, de meia idade, óculos de grau, estatura em torno de 1,75m, barba rala em um rosto comprido e os cabelos já meio grisalhos. Ele estava certo de que aquilo era um seqüestro. Logo que o coloquei a par da real situação, começou a tremer e a mudar de cor. Tirei do bolso o papel com os nomes dos consorciados, peguei o revólver e mostrei-lhe o tambor, para ele ver que só havia uma bala. O jogo consistia numa variante da velha roleta russa: eu lia um nome do papel, girava o tambor e puxava o gatilho.
Clic! O homem se desmanchava de medo, chorava feito uma menina, suplicava, se contorcia no chão. O pequeno gravador era desligado quando eu falava, já que só interessava a voz dele e outros sons por ele produzidos. A cada vez que apertava o gatilho eu fazia uma pausa, só pra aumentar o suspense. No terceiro clic, o cara se mijou. A propósito, a bala também seria um clic, pois não era uma bala de verdade, não era sequer uma bala de festim. Mas isso ele não sabia. Após o sétimo clic, fui forçado a recuar dois passos: ele tinha esvaziado os intestinos. O homem era tão frouxo quanto qualquer outro numa situação dessas, mas não tinha problema de coração. Se fosse cardíaco já teria pifado. Aquele não era um jogo para cardíacos.
Depois do décimo e último clic, parabenizei-o pela sorte que tinha, mas fui logo avisando que iria repetir todo o processo. É que precisávamos descobrir qual daqueles nomes na lista iria alojar-lhe uma bala na cabeça. Foi então que ele, juntando um resto de coragem, perguntou-me quanto eu estava ganhando pra fazer aquilo. Não lhe falei quanto, e ele me fez uma contraproposta que seria quase o dobro do meu pagamento. Guardei o revólver, disse-lhe que não poderia aceitar, mas que iria acabar logo com o seu sofrimento.


Saquei da pistola com um silenciador que eu mesmo tinha feito com uma garrafa de plástico, mirando-lhe a cabeça bem entre os olhos. Ele rapidamente dobrou a contraproposta, ofereceu outras garantias, jurou pela alma da mãe que não procuraria a polícia depois. Olhei bem nos olhos dele, simulei uma expressão de dúvida, de indecisão. O homem animou-se. Achou que, com sua infalível lábia de executivo bem-sucedido, estava novamente assumindo o controle, conforme lhe era natural. Iniciou uma verdadeira pregação: que um homem como ele não podia ser morto assim; que pessoas do porte dele eram muito importantes para a conjuntura econômica do país; que todo homem tem um preço e ele sabia qual era o meu; que aqueles com quem eu havia contratado eram uns fracos, eram ralé, podiam ser excluídos sem problemas; finalmente, que eu e ele éramos feitos da mesma matéria.
Balancei afirmativamente a cabeça, aparentando concordar com toda aquela baboseira. Ele sorriu cheio de esperanças. Comecei a baixar a arma. Os olhos dele se iluminaram de confiança. Daquela distância, nem precisei fazer mira para o joelho dele. Puxei o gatilho. O silenciador provocou um estampido seco e surdo, inaudível a média distância, mas os berros dele logo encheram o armazém. O desgraçado rolou pelo chão, todo enroscado em torno da perna arrebentada, berrando feito um animal recém-castrado. Olhava para mim com uma expressão que era uma mistura de pavor com incredulidade. Será que um sujeito tão esperto quanto aquele ainda não sabia da existência de tipos iguais a mim andando por aí? Desejei sinceramente prolongar aquilo, mas os gritos poderiam ser ouvidos e eu não queria correr maiores riscos. O odor desagradável era agora de uma mistura de sangue, urina e merda. Aproximei-me, disparei na boca. A bala deve ter atravessado, levando um monte de dentes e qualquer coisa mais que encontrou pela frente, porém não me detive para verificar. Os berros se transformaram em gorgolejos e outros barulhos desagradáveis. O terceiro tiro, na têmpora esquerda, acabou sendo um tiro de misericórdia. Embora eu nem saiba o que é isso.
Após sair dali, disquei de um telefone público para a residência do cara. Quando a pessoa atendeu, deixei bem claro que se tratava de um seqüestro. Usando gíria de mistura com um péssimo português, avisei que não procurassem a polícia se ainda quisessem ver o homem vivo, e que “a gente” ia ligar oito horas depois pra falar sobre o resgate.
Era só pra retardar as buscas e confundir a polícia.


Francisco Cleóbulo Teixeira